Filtros UHC e OIII

Já há um tempo tenho um filtro UHC, que é um grande companheiro para observações de nebulosas aqui nesta cidade de 3 milhões de habitantes onde moro.

Há alguns meses, fui presenteado por um amigo, André Pira, com um filtro OIII. Aproveito inclusive para agradecê-lo por este belo presente!

A partir daí, pude fazer uma série de comparações entre o uso dos mesmos. Sempre fiquei curioso sobre as vantagens e desvantagens do uso visual destes filtros numa cidade grande com uma abertura razoável como a do meu refletor de 200mm.

Vi com certa frequência dúvidas semelhantes por parte de outros colegas, neste fórum e em outros, então quero contribuir com minha experiência com estes filtros.

Consegui observar poucos objetos. Penas M57, M42 e uma rápida olhada na Nebulosa de Eta Carina. NGC 1999 (uma nebulosa de reflexão, parte do complexo da grande nebulosa de Orion) a nebulosa da Tarântula e NGC 2438, uma humilde nebulosa planetária incrustada no aglomerado aberto M46.

Os dois são filtros Expanse, o UHC e o OIII.

O céu fica quase negro com o OIII. Com o UHC o skyglow ainda perceptível sem esforço, embora é bem mais fraco que sem ele.

De um modo geral, o OIII aumenta o contraste com maior eficiência que o UHC, mas às custas de escurecer um pouco mais as nebulosas também, sendo que algumas partes delas revelam lindas estruturas e outras simplesmente são apagadas pelo filtro. M43 por exemplo é perceptível sem filtro e com o filtro UHC também (suspeito que ela tenha forte emissão no H beta...), mas o OIII apaga ela.
Em M57, repete-se o padrão. Com o OIII contraste é melhor reforçado, mas ela fica mais escurecida. As partes mais brilhantes dela ficam com um belo realce mas as partes mais diáfanas somem (a parte do centro do anel e nas bordas). O UHC tende a preservar estas partes mais tênues das nebulosas, mas não realça tão bem o contraste.

Em Eta Carina, a observação foi bem breve, infelizmente, mas pude perceber que o OIII revelou belas estruturas na nebulosa , porém matou algumas partes dela. Nestas regiões que foram "assassinadas" pelo OIII, o filtro UHC faz um trabalho melhor, revelando estas regiões que são invisíveis tanto sem filtro como com o filtro OIII.

Percebi um padrão que parece valer de um modo geral para meu local de observação.

Me lembro do pessoal do Armazém comentando sobre os dois filtros, o OIII e o UHC, segundo eles a diferença entre os dois é pequena e e não valeria a penas adquirir os dois. Eles se preocuparam com a satisfação do cliente e isso é admirável, algo que respeito muito neles.

Mas esta diferença, como tudo em astronomia amadora, depende muito do observador.

Eu não achei a diferença pequena.

Os dois se mostraram muito úteis para aspectos diferentes da observação de nebulosas.

O filtro OIII se mostrou de uso mais restrito por permitir apenas a passagem da emissão OIII. O UHC permite a passagem do OIII e Hbeta, tendo aplicação mais ampla.
Nos objetos que se beneficiam dos filtros, o OIII parece ter melhor performance com pupila de saída em torno de 4mm, possivelmente com boa atuação entre 5mm e 3mm. O UHC trabalha bem com uma gama mais variada de pupilas de saída, mas de um modo geral eu achei o OIII mais útil para as pupilas de saída maiores que 3mm, pois reforça melhor o contraste. Com pupilas de saída entre 3mm e 2mm o UHC tem sua melhor performance na maioria dos objetos, nesta faixa de saídas de pupila o OIII se mostra "escuro" demais. Com pupila de saída abaixo de 2mm mesmo o UHC acaba escurecendo demais, e para operar com aumentos maiores geralmente é melhor não usar filtro nenhum, no futuro talvez eu adquira um filtro de banda larga para trabalhar com pupilas de saída menores....acho que seria uma boa aplicação para os mesmos.

Três destes objetos que observei foi por motivos estratégicos, NGC 1999 é uma nebulosa de reflexão, Tarântula é uma nebulosa de emissão e reflexão e NGC 2438 é uma nebulosa de emissão.


NGC 1999 - Nenhum filtro funcionou bem nesta. Tanto o UHC como o OIII tendem a apagar ela.

Tarântula - Com pupila de saída de 4mm o OIII se mostrou bastante eficiente em destacar as partes mais periféricas da nebulosa, revelando melhor os seus contornos, mas tende a esmaecer mais a região central.
Com pupila de saída de 2,5mm o UHC conseguiu fornecer uma boa visão geral da nebulosa, destacando um pouco os contornos (embora não tão bem como o OIII) mas sem escurecer tanto a região central, o maior aumento permitiu também observar melhor alguns detalhes da região central da nebulosa.
Com pupila de saída de 1,5mm nenhum dos filtros funcionou bem, a observação sem filtro permitiu observar muitos detalhes interessantes da região central da nebulosa, mas às custas de quase não enxergar seus contornos e regiões menos brilhantes (que eram reveladas pelos filtros).
A observação da nebulosa de Orion, que também é uma nebulosa de emissão o reflexão (ambas são grandes berçários de estrelas), ocorreu de maneira bem semelhante.

NGC 2438 - Esta nebulosa planetária era simplesmente invisível sem os filtros, não importa o aumento utilizado. Para observar este tipo de objeto de uma cidade grande é indispensável ter um filtro UHC ou OIII.
Mais uma vez, o OIII trabalhou melhor com pupila de saída de 4mm e o UHC com pupila de 2,5mm. O OIII destaca muito bem a nebulosa, tornando sua presença, antes invisível, agora evidente. O OIII fez um par perfeito com minha HD-60 25mm para caçar este tipo de objeto, pois evidencia melhor o objeto que o UHC. Por outro lado, para tentar observar algum detalhe da mesma o UHC foi mais útil, pois permitiu usar um aumento maior mantendo a nebulosa visível, de modo que pude perceber a região central mais escura com o UHC e com o OIII não.


A situação talvez fosse diferente com a Nebulosa da Hélice....Que é uma planetária muito grande em com baixíssimo brilho de superfície... Não posso usar pupilas de saída menores que 4mm com o UHC neste objeto, creio que o OIII sairia na vantagem... Pena que ela já está numa posição ruim para meu ponto de observação.

Por hora, minha impressão é que eles são filtros complementares para um telescópio com boa abertura. Para certas regiões das nebulosas o OIII é mais útil, em outras, o UHC, e em outras nenhum dos dois.

Mas realmente, num telescópio menor eu acho que não daria muito certo usar o OIII. Ele já é meio "escuro" para meu 200mm, imagina num 114mm.... O UHC por outro lado ainda é útil numa abertura menor. Eu usei o meu extensivamente num refletor de 114mm, embora o UHC fosse um pouco "escuro" para esta pequena abertura, ele fazia toda diferença na observação de algumas nebulosas, em especial Eta Carina.


É importante salientar que por observar numa cidade grande e onde é quase impossível ficar totalmente livre de luzes parasitas, não consigo uma adaptação plena ao escuro. Tenho uma ocular de 40mm que eu esperava poder aproveitar com o filtro OIII (pupila de saída de 6,7mm), mas na prática, dificilmente consigo uma dilatação pupilar tão boa aqui, e a maioria dos objetos parece se beneficiar mais de um aumento um pouco maior, mesmo com o filtro OIII.

Outro detalhe importante que acaba jogando contra o OIII: Ele fornece imagens mais contrastadas das nebulosas na maioria dos casos (embora não funcione muito bem nas de reflexão), mas globalmente mais escuras. Como não consigo uma adaptação total ao escuro, acho que o potencial do filtro talvez fique um pouco sub-utilizado.

Cada observador enxerga as coisas de um jeito. Estas foram minhas impressões por enquanto (com o tempo vou poder experimentar os filtros em outras nebulosas). Outros observadores podem ter impressões diferentes, e seria interessante poder compará-las.


Mais alguém com experiência com os dois filtros? Num telescópio de abertura um pouco menor talvez? Ou algum outro com a finalidade de observar nebulosas?