AUTONOMIA BRASILEIRA OU SUBMISSÃO AOS PAÍSES RICOS?

AUTONOMIA CULTURAL NOS PAÍSES POBRES: UMA VISÃO ANTROPOLÓGICA

A ideia de se ter os países economicamente hegemônicos como referencia cultural ou científica, a ponto de se usar, na íntegra, seus métodos, de forma inquestionável, realmente não faz mais sentido em uma nova perspectiva antropológica nesse inicio de seculo XXI. Podemos e devemos, quando possível, inovar, quando essa condição econômica inferior não comprometer nossa ação de forma efetiva.

Na astronomia observacional visual temos uma experiência de boa convivência quando aceita-se o olhar do outro independente de sua condição econômica. A associação americana AAVSO se tornou uma referência internacional em observação visual. E não foi por imposição ou submissão. Isso ocorreu de forma natural porque ela não é mais americana na grande parte de seus membros, mas se globalizou, se tornou planetária, com centenas de participantes em mais de 40 países. Em 2005, quando me filiei a AAVSO, as cartas das suas estrelas variáveis eram muito ruins e eu fazia as minhas próprias cartas. Mas não era apenas eu quem não concordava com aquilo. Muitas pessoas, de muitos outros países e culturas, também faziam suas próprias cartas. A AAVSO, globalizada, teve a sensibilidade para entender que ela, mesmo em um país hegemônico economicamente, não deveria impor sua forma de agir sobre outras culturas. Ela aceitava que seus membros fizessem suas próprias cartas e dava a eles autonomia, como pesquisadores, para colherem seus dados, sem interferência. Cada membro escolhia seus próprios alvos e criava seus próprios métodos. Eles enfatizavam as recomendações e não as restrições. É pesquisa, independente do equipamento usado ou condição econômica. O formulário para envio dados é simples e direto com muitos itens opcionais. Em 2005 exigia-se até um calendário juliano para envio de dados. Hoje, quase 10 anos depois, a AAVSO melhorou demais suas cartas se adequando à visão do restante das pessoas, em muitos países. E coloca-se a data no formulário que, automaticamente, é transformada em dia juliano. Eu já passei até a usar suas cartas para variáveis. A AAVSO nos mostra que hegemonia econômica não deve ser motivo para imperialismo cultural. E que nós não devemos ser submissos a isso ou aquilo na construção do saber. Na ocasião, em 2005, muitas associações europeias de observação de variáveis só recebiam dados de estrelas visíveis no hemisfério norte. Nunca terão o alcance internacional de uma AAVSO agindo dessa forma discriminatória. Na atualidade não se cultuam mais posições privilegiadas do ponto de vista cultural mas ainda assim vemos alguns formulários de envio de dados visuais que mais se parecem fichários de museus, mantidos pelos que ainda insistentemente se resguardam em uma tradição hegemônica do saber com uma pompa que não faz mais sentido algum.

Se podemos inovar e trazer ideias novas, porque nos sub-julgar culturalmente aos países ricos? O que está aí, como civilização modelo, sinceramente, pode e deve ser questionada. A noção de civilização imposta pelo imperialismo cultural dos países ricos está sendo questionada. Vivemos em um momento de ruptura onde o novo, vindo de novas culturas, pode ser determinante no avançar das ideias. Não se trata de um neo nacionalismo ou bairrismo mas de se ter autonomia no pensar e no agir. Não se faz cultura sem autonomia. Muito menos ciência.

Nos anos de 1960 e 70 as coisas eram diferentes, era um outro contexto. Não devemos agir por simples imitação à valores daquela época. Crescemos quando temos autonomia para caminhar com as nossas próprias pernas. E a pratica da astronomia tupiniquim caminhou muito. Descobrimos supernovas, cometas, asteroides e mapeamos, como poucos, o relevo lunar. Podemos e devemos ser originais, com autonomia, se quisermos ir além.

Há ainda quem argumente que a tradição cultural deve ser mantida e respeitada. Mas a tradição cultural europeia está, neste momento, sendo questionada pelo efeito China e seus parceiros emergentes. A população europeia diminui a cada ano. Não vale mais a pena ser europeu? Se não podemos reinventar a roda ao menos podemos aprimorá-la para torná-la mais adequada às nossas propostas. A tradição europeia, ícone máximo da cultura ocidental, deve ser encarada, apenas, como uma sugestão a mais e não mais como o único modelo, fato consumado, inquestionável e indiscutível.

Muitas pessoas se sentem mais seguras em copiar os modelos dos americanos ou europeus. Deixemos essa tarefa pra eles. Há até quem diga até que devemos copiar a cultura dos países ricos para permitir troca de vivências culturais e intercâmbio de ideias. Mas porque eles não podem se adequar a nós? A submissão cultural põe em cheque a nossa própria autonomia e construção de identidade.

Os países emergentes economicamente vem mostrando um novo olhar sobre a produção cultural onde a hegemonia imperialista dos países ricos perde, cada vez mais, seu valor. Não há porque perder esse momento, essa janela rara, que se abre nesse momento. Não pode ser vantagem interromper isso por algo que não seja realmente decisivo, diferencial.

O antropólogo Darcy Ribeiro, em seu livro O POVO BRASILEIRO, acusava esse imperialismo cultural de ser etnocida. E ainda escreveu: “Ao contrário do que ocorre nas sociedades autônomas, aqui no Brasil o povo não existe para si e sim para os outros.” Fica então a minha pergunta: até quando?

Olá,

Gosto desse tipo de debate! Vamos lá!

Assim como os EUA possuem uma cultura europeia transladada, nós tambem possuimos historicamente, o grande problema é que o Brasil foi uma colonia de exploração enquanto os Estados Unidos foram uma colonia de povoamento. Nos temos sangue europeus, africanos e indígenas correndo em nossas veias praticamente.

Eu acho interessante a gente imitar as coisas boas e que funcionam lá fora, as coisas que nunca vão funcionar aqui devido a ganancia e corrupção, o jeito gerson de querer tirar vantagem de tudo, que impera em grande parte da massa dos brasileiros. Vemos que nossa cultura é samba, cerveja, mulher, carnaval e futebol, essa é a imagem que o proprio povo brasileiro vende para o exterior, tambem os grandes escandalos politicos e absurdos nas leis que protegem e incitam a corrupção.

Não desmerecendo os projetos das universidades federais, mas é notavel vermos dinheiro sendo investido na educação e tecnologia, porem o dinheiro é desviado nos projetos cientificos que não acontecem, vemos por exemplo o governo investindo dinheiro na compra de telescopios bacanas para as universidades federais, e esses mesmos se enferrujando e servido apenas para alguns poucos apreciarem os céus, é usado muito pouco para trabalhos de fato cientificos, ou se são, não há divulgação sequer nos site da universidade.

Enfim, digo mais, acompanho o forum Brazilian Space, do duda, e o que vejo se tratando da grande parte dos gestores de instituições de ensino superior, no ambito academico, são corrupções, desvios de verbas, superfaturamento, o que raramente acontece nos EUA ou na Europa, por que lá tem um povo que trabalha sério. Exemplo, noticia quentinha: http://brazilianspace.blogspot.com.br/ lê lá sobre a corrupção da reforma do telhado do ITA. Eu tenho muito nojo da cultura brasileira, poucas são as coisas que me dão orgulho de ser brasileiro, temos mais exemplos negativos do que positivos, e quando inclinamos nossos olhos para os EUA e a Europa, muitas vezes da uma pontada de inveja mesmo, por que lá vemos muitos exemplos de coisas que funcionam, segurança publica, saude, politica, justiça social, igualdade.

Eu penso isso, acho que não temos cultura suficiente de qualidade para exportar para fora.

[]´s

Andarilho das Estrelas!

Só um adeno, para você ter ideia, Ministerio da Ciencia e Tecnologia:
Quantidade de dinheiro disponibilizado em 2013 pelo MCT: R$ 7.945.806.516,16 (Quase 8 bilhões)

Fonte: http://www.portaldatransparencia.gov.br/receitas/consulta.asp?idHierarquiaOrganizacao=75694&idHierarquiaDetalhe=0&idDirecao=0&idHierarquiaOrganizacao0=1&idHierarquiaDetalhe0=0&Exercicio=2013

Me diga, para onde foi esse dinheiro? Cade o retorno cientifico? Cade as descobertas? Esse dinheiro foi para qualquer lugar, mas menos para a evolução da ciencia e tecnologia.

Vamos agora para a maior vergonha nacional, Ministerio da Educação: Receita R$ 45.688.492.855,00 (45 bilhões)

Cade esse dinheiro? Muita grana liberada e investida na pseudo educação.

http://www.portaldatransparencia.gov.br/receitas/consulta.asp?idHierarquiaOrganizacao=75696&idHierarquiaDetalhe=0&idDirecao=0&idHierarquiaOrganizacao0=1&idHierarquiaDetalhe0=0&Exercicio=2013

Andarilho das Estrelas escreveu:Olá,

Vemos que nossa cultura é samba, cerveja, mulher, carnaval e futebol,
!

Olá Andarilho, seja bem vindo ao Astroforum, lugar de debate de ideias.

Em antropologia, foco do texto que foi postado, não existe um olha privilegiado. A opinião que você colocou sobre samba e cerveja reflete o olhar do europeu sobre a cultura brasileira. Esse olhar, pela antropologia, é discriminatorio. Essa é a postura etnocida que o Darcy Riberio tanto denunciava.

Hoje, a maior vergonha do planeta é a espionagem americana em lideres de paises amigos. Isso é ser civilizado? Rock é melhor que samba? O Etnologo Malinowsky nos trouxe a prática do Khula, da ilhas Trobriand mostrando, a todos, que não mais existe olhar privilegiado quando pensamos em cultura. Antropologia é o estudo do homem. Os conceitos citados no texto, são antropologicos.

Se o caro colega nos trouxer uma citação antropologica atual afirmando que música clássica é melhor  que o chorinho brasileiro ou que a valsa europeia é melhor que o nosso forro ou que que a cultura europeia é melhor que a cultura brasileira, para mim, que além de músico, passeio pelos campos da sociologia, história, etnologia  e artes, será uma grande surpresa.
Fico no aguardo,

Bruno escreveu:

E aí pessoal, se me permitem eu gostaria muito de participar também do debate, só que para não enveredar em outras direções será preciso não discutir aqui (e nem convém) se Mozart é pior ou melhor do que Noel Rosa, ou se a cultura do nosso país é um entrave para a evolução da astronomia em solo tupiniquim, mas sim o que os brasileiros e os gringos estão fazendo ou não para o progresso dessa ciência, ok?

Bruno
Moderador

Ok, Bruno, sempre pertinente, aproveitando ainda a oportunidade estou deixando esse link para quem quiser e puder ler, sobre a experiencia antropologica de Malinowski, que tem a ver com a postagem que fiz, mostrando não mais haver um centro referencial de cultura.

http://www.mediafire.com/view/27q11ou3ibb4tfh/Bronislaw_Malinowski_Os_argonautas_do_Pacifico_Ocidental.pdf

Malinowski está para a antropologia assim como Nietzsche para a filosofia e Einstein para a Física. Todos concluiram não haver mais referencial privilegiado, onde tudo é relativo. Por isso não há mais motivo para que sejamos submissos aos americanos ou europeus. Podemos ter autonomia na ciência, na astronomia ou em qualquer outro campo do saber.