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Por uma astronomia mais humana

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Jr. Martini
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Mensagem  ajc Qua 15 Jan 2014, 09:58

A IMPORTÂNCIA DA ASTRONOMIA PRESENCIAL NA HUMANIZAÇÃO DO SABER

Muito se tem falado da Astronomia de Gabinete que contrasta com a Astronomia Presencial na prática observacional. Analisar fotografias, fazer observações remotas, analisar tabelas com dados numéricos ou ir a campo, observar in loco, com olho na ocular, ao vivo e sentir o frio da madrugada? A prática de gabinete substitui totalmente a observação presencial, visual?

Estando numa sociedade cada vez mais virtual e artificial, onde as imagens em CCD e a computação automatizam olhares e a própria percepção do cosmos, fico a indagar: a diminuição da prática da astronomia presencial, visual, contribui para uma declínio da astronomia como prática humana de ciência? A robotização e automação nos processos observacionais comprometem o desenvolvimento humano da astronomia? Se pensarmos a ciência como instrumento para o caminhar humano no saber onde o cognitivo e o sensorial crescem em parceria com a parte técnica, tecnológica, então a astronomia de gabinete nos coloca em confronto frente ao nosso próprio avançar sobre a trajetória científica.

Como pode um astrônomo não observar através de uma ocular? Muito se fala sobre a eficiência e a precisão numérica da astronomia de gabinete feita exclusivamente por fotos e programas de computador. É a visão tecnicista do saber. E a imprecisão da observação visual não cabe nessa perspectiva restritiva e empobrecida por resultados. Mas se a ciência se resume apenas em números, como surgem as formulas que geram os números? As fórmulas e os modelos matemáticos que vão alimentar os números surgem da prática científica, da vivência, da experimentação. Não se criam modelos ou métodos a partir de teorias ou abstrações do vazio. A ciência é construída como observação da realidade. Mais do que isso, como algo que agrega valor ético pelo conhecimento. Um desempenho técnico elevado desprovido de vivência humana nos coloca sob o risco de uma prática científica não humana, de algo que não vai agregar valor ao ser humano. É pensar a ciência como algo distanciado da expectativa humana onde as pessoas muitas vezes indagam, pra que serve isso ou aquilo? Pra que serve, enfim, uma ciência desumana?

Se um astrônomo não vivencia a observação na ocular e acaba por se contentar com algo terceirizado, mostrado pela frieza da tela de um computador, ele desumaniza a sua própria prática, perde contato com sua fonte primária de percepção da realidade, se distancia da relação, insubstituível, entre si mesmo e a natureza, como relação básica e essencial na construção do saber e acaba por comprometer o seu fazer ciência.

A prática da astronomia presencial, visual, deve ser entendida como ação indispensável no dia a dia do astrônomo, em qualquer área, como atitude de fazer científico onde a percepção se mantém estimulada pela observação do cosmos. O contato com as estrelas nos remete a uma vivência sensorial estimulando a imaginação como base para a construção do saber. A astronomia de gabinete nos remete a algo alienante do mundo natural onde a burocratização numérica da observação substitui as vivências sob o céu noturno por coordenadas numéricas e demais parâmetros de referencia. Muitos astrônomos de gabinete, teóricos da ciência, não sabem sequer apontar constelações no céu. Isso é astronomia?

O olho na ocular se constitui como laboratório insubstituível à prática humana e observacional da astronomia. A análise de resultados obtidos mecanicamente ou a observação remota apenas justificam e complementam a prática presencial, sem sub-julgá-la ao desnecessário. Dados observacionais encomendados a institutos de pesquisa devem ser consequência de projetos pensados a partir de observações presenciais. Caso contrário podem conduzir o astrônomo a algo desconectado com a cultura humana, algo artificial. A alienação, em muitos casos, é fruto da prática científica de gabinete. A fome e a miséria humanas podem ser algumas das consequências mais dramáticas da alienação do fazer ciência quando o cientista se torna alheio às necessidades mais básicas da humanidade em uma prática excludente e desconexa com a realidade social vigente.

Observar as estrelas em noite de céu estrelado nos remete à reflexões cosmológicas sobre quem somos. E fazer ciência nesse contexto é algo fundamental para se pensar projetos humanos em astronomia ou em qualquer outro campo do saber.
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Mensagem  Jr. Martini Qua 15 Jan 2014, 16:04

Very Happy Muito bom  achei ótimo seu artigo ! Very Happy 
Esperamos que muitos amadores  voltem a observação prática e não simplesmente imite os teóricos, verdade é que nós todos acabamos meio que fazendo um pouco esse papel teórico devido a tantas exigências. Mas tentar resgatar a tradicional astronomia observacional é muito mais interessante e estimulante a todos inclusive como forma de ensino dessa ciência .

Abraços
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Mensagem  orlando Qua 15 Jan 2014, 20:07

Bacana o texto,gostei!
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Mensagem  Bruno Ter 21 Jan 2014, 08:24

ajc escreveu:Como pode um astrônomo não observar através de uma ocular?
É a pura verdade, sem deixar de esquecer é claro do inegável e indiscutível valor da astronomia computadorizada, entretanto o que realmente forja verdadeiramente um astrônomo é a prática da astronomia observacional. Reconhecer visualmente as diferentes classes de estrelas, os planetas, os objetos Messier e seguir o deslocamento deles na abóbada celeste, antecede o uso de qualquer tecnologia para o reconhecimento do céu. É perfeitamente possível um observador habituado com um instrumento Go To sentir-se perdido ao olhar para o céu diante de uma falha do equipamento. Infelizmente essa é uma tendência que atualmente vem a cada dia mais em primeiro lugar, antes mesmo do futuro observador ter espreitado o céu noturno com um simples binóculo que seja. Pelo menos aqui no fórum sempre foi valorizada a observação visual em pé de igualdade com a tecnologia. Sendo então ficou aí o alerta desse oportuno tópico, e que ele possa despertar cada vez mais o verdadeiro espírito do astrônomo que consiste em simplesmente dar uma olhada.
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Última edição por Bruno em Sex 11 Jul 2014, 18:35, editado 1 vez(es)
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Mensagem  Xevious Seg 17 Fev 2014, 01:31

Os antigos Sumérios catalogaram cerca de Seis Mil estrelas.

Algo incompreensível para nós, porque apenas 4 mil estrelas são visíveis, e isso se forem em condições ideais..

Mas em todos casos os sistemas robotizados já alcançaram mais de 100 bilhões de estrelas catalogadas.
A maioria na nossa galáxia e uma minoria nas galáxias próximas.

Já não existe um interesse real na visualização ótica, em termos se conseguir informações das estrelas mais distantes ou outros astros distantes.

Mas observações óticas podem ser muito interessantes na observação de pequenos asteroides próximos.

Então a observação ótica ainda não esta fadada a nostalgia, mas ela deve ser aplicada naquilo que mais se tem validade.

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Por uma astronomia mais humana Empty o que é ter validade?

Mensagem  ajc Qua 19 Fev 2014, 15:56

Xevious escreveu:
Então a observação ótica ainda não esta fadada a nostalgia, mas ela deve ser aplicada naquilo que mais se tem validade.

A questão é: o que é ter validade? o que é valor? uma ciência que produz bomba atomica tem valor? qual valor?
Edgar Morin questiona essa ciência e esse valor. Ele considera que essa ciência traiu a humanidade. O texto é um convite à reflexão: que ciência queremos? que ciência teremos? uma ciência produzida exclusivamente por automatismos poderá ser considerada como humana? A ciência existe sem o homem? estamos numa Matrix?
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Mensagem  Xevious Qua 19 Fev 2014, 21:13

ajc escreveu:que ciência queremos? que ciência teremos? uma ciência produzida exclusivamente por automatismos poderá ser considerada como humana?
Muito justo tua posição que eu compartilho também

só que não tem jeito, há coisas que só automatizado mesmo
como por exemplo tudo a que se refere sobre Nanotecnologia..


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Mensagem  Bruno Qui 20 Fev 2014, 18:06

ajc escreveu:uma ciência produzida exclusivamente por automatismos poderá ser considerada como humana?
Xevious escreveu:só que não tem jeito, há coisas que só automatizado mesmo
Acredito que não seja preciso se fixar em nenhum extremo. Por exemplo, houveram ocasiões em que observando visualmente o planeta jupiter com o telescópio eu observei detalhes que não apareceram em astrofotos feitas na mesma ocasião, e vice versa. Não tenho dúvidas de que a observação visual e a astrofotografia se complementam.
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Mensagem  ALEXANDRE YUHASZ Qui 20 Fev 2014, 19:03

senhores, boa tarde!

Sei que quem sou eu para opinar em uma área que estou engatinhando, mau sei reconhecer o céu ainda, faço vários trocadilhos, enfim!!!

Porém gostaria de contribuir com a seguinte opinião: nessa área há aqueles que por fascínio, hobby, ciência, seja o que for, aqueles com a devida seriedade, dão o melhor de si. Os leigos e iniciantes se baseiam em vocês, amadores profissionais, cientistas, naqueles que vivem o dia a dia da astronomia em sua essência. Como nosso colega Xevious citou é inevitável o aprimoramento tecnológico, haja visto que o primeiro telescópio a sua época foi uma inovação tecnológica, que com certeza fora tomada como loucura, assim como Galileu, Copérnico, guardada suas proporções de época e que para estes últimos, com certeza dispenderam muito recurso e tempo de suas vidas . Porém cabe ressaltar que a experiência da visão, o registro da imagem de um fato astronômico na mente humana supera de longe qualquer recurso tecnológico, ainda sim aqueles conquistados apenas com esse ultimo, não se pode declinar o testemunho ocular das observações. Dadas proporções, os recursos tecnológicos são uma extensão do olho humano e que só advém tais avanços devido a simples curiosidade humana em explicar o desconhecido. Relembrando um pouco filosofia, o mito da caverna, cujo o olhar para o fundo da caverna, da projeção da luz de sua entrada é a especulação do desconhecido, quando em tempos passados tudo que não era explicável cientificamente, com sua devida razão, era mitificado. Portanto a tecnologia veem para desmitificar o incompreensível e o não palpável. Cabe ressaltar que também os recursos tecnológicos sempre foram possíveis, com sua devida compreensão de uso, á aqueles que obtiverem a sorte do recurso financeiro aliado ao tempo da dedicação em detrimento de abrir mão de comodidades cotidianas, pois montagens computadorizadas, telescópios de grande abertura, recursos de processamento e longas horas, noites e dias de observação são exercícios que num mundo de desigualdade social e distribuição e renda cada vez maiores, acabam por intimidar ou desestimular o inicio no estudo da astronomia, pois entre ter um celular novo, carro, roupa, uma churrascaria, tempo com a família, muitos acham o nosso investimento nessa área, um custo desnecessário sem maiores benefícios concretos, coisas que já escutei quando resolvi investir na observação, que para mim em particular, por enquanto é o relax do stress do dia a dia, pois com os olhos no tele, na câmera, esse hábito novo proporciona uma reciclagem nas idéias, literalmente falando na brisa da madrugada a fora, na aventura de tentar ao máximo fixar o astro que mais nos fascina aliado a conquista do ACHEIIIII!!!, lá está ele, nossa como é belo, enfim.

Cabe a nós, aqueles que dispõem mais de tempo e recurso, ou aqueles com menos, de transmitir a verdadeira essência da astronomia, como cito acima, deixar de olhar para o reflexo da entrada da caverna ao fundo e estimular as pessoas a reconhecer o que há lá fora, reconhecer simplesmente o lugar onde vivemos, pois não há prova maior na vida da grandiosidade do universo de uma força maior, deus, seja como for rotulado, do que as maravilhas acima de nossas cabeças, sejam elas vistas com um simples levantar dos olhos aos céus, ou dentro de sofisticados laboratórios cosmológicos astronômicos, pois todos nós fazemos parte de um quarq, prótons, elétrons, núcleos, átomos, matéria, planeta, vida, galáxia, universo.

Em resumo, olhar para cima é olhar para dentro de você mesmo, não importa com que recursos, pois se vemos tantas coisas acima, todas elas estão compactadas dentro de nós, o sincronismo do macrocosmo com o microcosmo!

Nunca devemos esquecer que do amadorismo sem ou quase nenhum recurso, ou da pura curiosidade vieram as maiores maravilhas avançadas do mundo e tudo fruto do ser humano, um conjunto de matéria compactado provinda do cosmo.

Tecnologia sim, dependência exclusiva e dita como certa e única referencia, jamais.

Vamos dar uma olhadinha lá fora!!!!!

abs,
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Mensagem  ajc Sex 11 Jul 2014, 13:29

ALEXANDRE YUHASZ escreveu:senhores, boa tarde!

Tecnologia sim, dependência exclusiva e dita como certa e única referencia, jamais.

abs

Essa frase resume tudo.
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